O carnaval
passou e desorganizou um pouco nossa desordem. Veio girando feito um furacão
bêbado e encontrou a gente no meio da rua com uns copos nas mãos. Nos sugou aos
ares, lançou aos ventos, às músicas, aos amigos e a uns venenos de adulto. Atiçou,
eletrificou e nos tirou pra dançar sem muito direito a descansos. Os pés
cansados e fortes, o corpo quase sempre suado e a bebida gelada. E as pessoas
com a gente, as pessoas pra gente, e a gente com e para elas. A rua pra gente,
o canto da gente e o dos outros também.
Dentro dos
ventos fortes e coloridos dessa ventania, a gente se pintou de azul, rosa, prateado
e verde florescente. A gente se enrolou em arco-íris e brilhamos sob sol, chuva
e lua. A gente comeu e bebeu na rua, dançou e descansou na rua, beijou e se
abraçou na rua, militou e resistiu na rua. Nossos corpos, vozes e presenças
ecoaram espectros de luz e incendiaram e acenderam espaços, encantaram pessoas
boas e se encantaram com elas.
E a nossa
casa é que esperasse o furacão nos soltar. Não é todo dia que se está coberto
de glitter comendo numa lanchonete com amigos. Não é todo dia que se sai às
ruas sem saber ao certo pra onde, tendo a certeza de que vai achar uma coisa
boa por aí. Não é todo dia que o boçal do nosso presidente é afrontado, de
diversas maneiras e por diversas pessoas, das formas mais maravilhosas e
criativas possíveis.
E pra não
dizer que não falei das coisas ruins... Faz de conta que falei. Ou então dá uma
olhada em qualquer noticiário de hoje, de ontem, de uns meses ou uns anos
atrás. Tá tudo lá. Os chamados “males que o carnaval traz” não são trazidos
pelo Carnaval propriamente dito, ou pelo menos não têm muito a ver com ele. Ele
só chega e expõe algumas coisas que na verdade já acontecem há muito tempo. E a
falta de educação de algumas pessoas cabe aqui como melhor exemplo.
Ninguém deve
temer o Carnaval, como infelizmente tem acontecido. Ninguém deve temer sair na
rua e encontrar pessoas cantando e dançando, e cantar e dançar também se quiser.
Sair de casa e olhar para os outros com um olhar de cuidado já é resistência em
2019. Já é uma força contra aqueles que agem de forma contrária. Precisamos ser
maiores e precisamos ser mais. E fazer lembrar que carnaval é alegria,
história, cultura, música, amizade, energia e amor. Claro: A forma como cada um
vai receber e passar isso é uma escolha absolutamente individual. Carnaval é
essa ideia maravilhosa e quem põe em prática é você.
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