quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Furacão


A ansiedade escorre pelos meus dedos e eu os lambo diariamente. Esfrego o rosto, bato os pés, mordo objetos e respiro fundo, e bebo muito, e como tudo. Porque eu tenho planos, contas e um corpo para cuidar, porque eu tenho jogado tudo isso no lixo, tenho me chutado pra baixo da cama e pra fora de casa.

Porque há coisas que nos pesam os ombros, nos pressionam contra a parede e apertam nosso peito. E a gente gira feito furacão pra longe, tentando esquecer, tentando não ver, não querendo engolir, não querendo sentir. E eu tenho girado em excesso e de braços abertos, tenho arrastado tudo comigo, tenho desolado pedaços importantes de mim.

Só fecho os olhos e vou pra rua, saio à noite e encho a cara. Me junto com amigos para não pensar e ter uma trégua de mim. Às vezes consigo. Vou à praia e mergulho como se tudo fosse mudar entre a imersão e a emersão. Nada. Mas pelo menos ali a realidade é enfeitada. Enfeites esses que sempre procuro, porque me melhoram e às vezes ajudam a me manter girando... O sol, a lua, o ar da noite e a calma da tarde. E também as paredes das ruas, os ângulos dos meus olhares e as músicas que canto.

Preciso parar. Preciso relaxar e dormir. A casa tá uma zona e eu tenho cochilado no meio dos meus escombros. Aqui os enfeites nem ficam tão bonitos assim e se tornaram remédios, em vez de um suco saboroso que acompanha um dia bom. Eu vou parar. Eu tenho que parar. Parar e depois caminhar, e olhar, e ver. Respirar e encarar tudo de frente, abrir o peito e deixar a cara livre para os tapas, para as lições. Preciso mastigar em vez de engolir de uma vez. Ler em vez de folear. Chorar em vez de correr. E nadar. Em vez de me debater.

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