sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Túnel


Voltar pelo caminho de mim e me recolher as partes, os estilhaços, os membros espalhados de mim mesmo. Olhar para trás e ir até lá. Se aproximar com cuidado, mas sem medo, e entender a cara de todas as minhas mortes. Refazer uns pontos em mim e chorar o que não chorei, falar o que não falei e apreender o que me foi negado. De pés calmos, caminhar sem pressa pelos meus túneis e resgatar os prisioneiros que escondi, e que depois se esconderam de mim.

Colocar tudo em seu devido lugar. Ou tentar. Revisitar os porões que ficaram abertos, entender porque algumas luzes se apagaram e acendê-las quando for preciso. Tatear no escuro e achar umas chaves que estavam lá o tempo todo.  E ir abrindo algumas portas então, ferrolhos de ferro, sistemas elétricos, e encantar uns cães raivosos. Ir liberando alguns sinais, algumas trancas e algemas. Fazer as coisas acontecerem, fazer a água rolar e meu trânsito fluir.

Voltar em mim pra me fazer acontecer, pra ressuscitar o bom que tenho ou tinha. Ressuscitar o bom de mim e agregar ao melhor que tenho agora, e sair andando e gritar pra fora. Gritar pra fora minhas velhas novas partes, meus redescobrimentos de mim. E seguir em frente e esquecer também umas partes pelo caminho futuro, e perder outros membros e aprender um pouco mais, coletar outras coisas e passear por outros bosques, por outros pântanos, por outras trilhas de mim. 

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