quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Viva pra si ou morra por eles

Recentemente a linda da Kim Kardashian afirmou, após a publicação de uma foto em que estava sorridente, que não costuma sorrir porque isso causa rugas. Ai, Kim! Sorrir, rir. Coisas tão simples e tão gostosas sendo trocadas por uma aparência cinco anos mais jovem daqui há uns vinte anos? Poxa. Ok, não te culpo, se até homem é bombardeado por esse culto à beleza de cada dia, você, mulher, tá perdoadíssima.

O que é preocupante de verdade é esse espírito raso que a gente, por vezes, abriga. Essas trocas que fazemos em prol da nossa imagem diante dos outros, em detrimento de nosso próprio bem estar. Isso que pode fazer toda diferença lá na frente, por nos ter roubado o melhor de nós mesmos, sem termos ao menos nos dado conta.

Eu, por exemplo, já perdi as contas de quantas vezes já fui numa festa e não dancei porque tive vergonha, apesar da imensa vontade de correr ao encontro dos amigos na pista. Uma colega minha jamais sai de casa calçando chinelos, "Meu pé é horroroso!" - se justifica. Outra passa a vida se escondendo atrás de uma franja que detesta, "Mas é melhor do que deixar esse testão à mostra", diz. Sobre os que têm vergonha de dizer que pegam o busão todo dia para irem trabalhar ou estudar, eu prefiro nem comentar.

De quem estamos nos escondendo, afinal? Temo que seja de nós mesmos. Não que precisemos sair por aí adoidados, fazendo o que der na telha, mas há concessões e besteiras desnecessárias atrapalhando nosso caminho, nossa visão. O que espero é que deixemos nosso lado besta cada vez mais de lado, que peguemos a batata frita com a mão, que não tiremos o carro da garagem para ir até a padaria da esquina. Espero que a gente deixe de flutuar, aterrize. Que a gente pise no chão.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Descanse em paz enquanto pode

A gente cansa de muita coisa nessa vida. Cansa até do inimaginável, do que é muito bom.
A gente cansa da nossa casa, da nossa escola, do nosso trabalho. Cansa das pessoas que a gente ama, das nossas roupas, dos nossos bichos, da caminhada. A gente cansa da gente.

 E pior cansaço é o de si. Das mesmas manias chatas, daquelas ideias erradas. De algumas atitudes espontâneas, então... Estamos com fadiga, querendo voltar no tempo. Esse papo de se arrepender apenas daquilo que não fez é coisa de gente meio doida, que tem dificuldade em admitir fracassos e reconhecer erros. Ah, a gente cansa! Cansa mesmo. Esse despertador, o vizinho inconveniente, o interfone com defeito.

Mas sabe que é bom? É. Porque se somos forte e estamos exaustos, mudamos. Se cansando a gente entrega as chaves do carro a um amigo e vai de bicicleta. Se cansando a gente pede um aumento ao chefe, uma ajuda ao colega que é bom em matemática. Não joga os bichos na rua, mas pega mais uns dois. Não fica calado sentindo raiva, chama pra conversar. Se cansando a gente para a caminhada por alguns instantes, seleciona uma outra pista, toma um gole d'água e recomeça num novo ritmo.

Se cansando a gente bate a porta com força, vai ali na argentina, respira novos ares. Reconstrói nossa fé num mundo melhor para todos. Ligeiramente desnecessário é dizer que os cansaços mais cansados são os de maior potencial. Os pivores de grandes reviravoltas. Um mal necessário que sempre volta.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Pra não morrer de novo

De todos os mundos que existem, você quis viver no meu. Com meus baixos escrúpulos, te deixei entrar, abri todas as portas, te ofereci um chá e alguns prazeres fugazes. Mas que hóspede peculiar é você. Não sentou onde devia, arrancou a toalha da mesa, derrubou alguns cristais. E então saiu pela janela, levando um pouco de mim, um pouco da minha paz.

Não te preocupa, não olha pra trás. Tenho feito alguns ajustes, tenho limpado tua sujeira. Uma nova ordem vem sendo instaurada. Mas dessa vez, aparelhos seletivos nas portas. E sem cristais ao alcance dos olhos.


domingo, 16 de novembro de 2014

Ida

Tentei te contar sobre a luz na escuridão, 
você não pôde ouvir.
Construí um circo pra te tirar o choro,
nem ao menos sorriu.
Desenhei flores em teu caminho,
uma canção no silêncio de teus dias,
você dormiu, não viu.

Agora estou comigo,
procurando flores no caminho,
acendendo luzes na escuridão.

De ti não sei,
dou fé de que estejas sorrindo,
enquanto cantas outra canção.



sábado, 15 de novembro de 2014

Reclamações regressivas

Há uma tendência, da qual participo com afinco, da reclamação da boca pra fora. Reclamação sobre o que não incomoda de fato, sobre o que é tão simples, sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Minha reclamação vai, agora, pra esse tipo de bobagem que nos toma muito tempo e que amargura o que pode ser doce.

Hoje, sábado de tarefas zero, levantei cedo. Acordei sozinho, nenhum amor. Umas crianças gritando na calçada e passarinhos se comunicando com outra dimensão. A água do chá secando no fogo e o sereno invadindo parte da sala. E eu, conectado a mim, percebi a graça de estar comigo. E apenas isto.

domingo, 21 de setembro de 2014

Visita

Dia desses, embaixo das cobertas, 
Minhas mãos pensaram em ti.
Pensaram em teus fios escuros,
No riso da tua fala,
Pensaram em ti sobre mim 
E ao meu lado,
Pensaram em ti 
Calado, 
Cantando com o corpo pela sala.

As mãos rápido adormeceram 
E de êxtase me vi farto.
Era tudo tu dentro do quarto.
Mas te vi distante
Tão logo os olhos 
Econtraram o eixo.

De consolo, tive o abraço das paredes,
Que por vezes
Até se assemelham a ti.

A distinção se dá no abandono:
Elas jamais se vão,
Jamais te deixam partir.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Drama

Tem uma coisa comendo meu coração
Tédio
Eu aqui de novo
Alguém me disse pra deixar de ser assim
Sozinho
Aflito
De desgostar de mim

Uns gritos vindos dali
Umas risadas vindas de lá
Mas alto mesmo é o que meu peito tem a falar

Falar desse absurdo de estar acompanhado e ser só
Dessa garganta forte, do nó
Do cinza do céu azul
Da dor, enfim
Que me faz calar, que me rouba de mim

sábado, 2 de agosto de 2014

Fazendo o sonho acontecer

 “O que fazer para realizar nossos sonhos?”, De dentro do táxi, foi a frase que vi num outdoor qualquer de uma avenida movimentada. Pensei, claro. Ah, não é uma pergunta muito difícil de ser respondida e as respostas para ela provavelmente são muito parecidas – seja lá qual for o sonho a ser alcançado.

Tudo começa com essa coisa inesgotável que cada um carrega em si: o tal do desejo. Aposto que você não lembra um momento sequer da sua vida em que você estivesse completamente satisfeito, sem querer, sem esperar, sem perspectiva alguma. Podemos ter obtido sucesso na vida profissional e amorosa e ter relações maravilhosas com amigos e família, mas por mais besta que seja, vamos sempre desejar alguma coisa – e o orgasmo não me deixa mentir.

Quando crianças, por exemplo, um dos nossos maiores sonhos é conseguir andar de bicicleta sem as rodinhas. Desejamos sorvete antes do jantar, aquele boneco ou boneca cara da vitrine daquela loja, “só mais um pouquinho” na casa do amiguinho e até se tornar logo um adulto (tolos, não?).

À medida em que a maturidade vai chegando, nossos desejos tratam logo de acompanhá-la: Quero uma casa bem grande e super confortável, quero viajar pra Londres, quero ser cientista, quero ser um artista famoso, quero estudar em Harvard. Quero, quero, quero. And the list goes on and on.

Pois é, amigos, pra nosso enorme descontentamento, querer não basta quase nunca. E o que tenho visto por aí é muita gente querendo muito, muita gente fazendo pouco e reclamação pra todos os lados. Longe de mim parecer uma mãe dando sermão - queria eu ser completamente comprometido com o que desejo - só pretendo alertar que o que almejamos não vai bater na porta de nossos apartamentos e nos dar uma piscadela.

“Quero viajar pra Londres.” - Já começou a juntar um dinheirinho?
“Quero ser cientista.” - Tirou quanto em química no trimestre passado?
“Quero ser um artista famoso.” - Tá desenvolvendo e investindo em algum talento?
“Quero estudar em Harvard.” - Boa sorte!

O que fazer pra alcançar nossos sonhos? Acordar me parece um ótimo começo.  

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Quando falta luz


De vez em quando acontece na casa de todo mundo: falta energia ou, numa linguagem mais coloquial, acaba a luz. Aposto que na maioria das vezes a luz em si é o que menos importa. A falta de energia significa que ficaremos sem TV, sem chuveiro quente, sem carregar o celular e, claro, sem o venerado computador. E sabemos muito bem que, nos dias de hoje, ficar sem tudo isso é um convite ao tédio.

Mas não é de todo ruim, vai. Nessas circunstâncias a gente também é estimulado a conversar com quem está por perto, dar mais atenção ao nosso bicho de estimação, pegar um livro pra ler, sair para dar uma volta ou simplesmente tirar um cochilo. Sem sermos bombardeados por tanta informação, nos sentimos mais leves. Ainda que na marra.

Um exemplo desse possível divertimento carente de tomadas plugadas eu vi um dia desses, num episódio de uma série cômica americana, cuja tradução feita para o português foi Eu, a patroa e as crianças. A energia da casa acaba e a família passa a se divertir no escuro: jantam à luz de velas no jardim, brincam com lanternas e jogam mimica.

Só resolvi escrever sobre isso porque não consigo gostar da ideia de só estarmos satisfeitos e de bem com a vida quando estamos com a bunda enfiada no sofá e os olhos voltados pra uma tela – seja ela qual for. Tá, não vamos fazer o mesmo que o pessoal da série e explodir de alegria toda vez que a energia for embora. Como a maioria, também odeio banho frio, tenho amigos esperando respostas em redes sociais e solto um "AEEEH" quando os aparelhos começam a ser ligados e as lâmpadas a acender. Mas daí tiro uma coisa: a energia pode ir embora. Mas não precisa levar nossa luz.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A timidez do Eu te amo

  Um dia desses, um pouco antes de dormir, conversei e ri bastante com minha irmã. Falamos sobre seu novo namorado, sobre relacionamentos em geral, sobre sentimentos. E então fomos dormir com aquela leveza gostosa que boas risadas sempre nos proporcionam.

Na manhã seguinte ela se levantou cedo, como de costume, e foi trabalhar. Eu acordei por volta das 10 e, como sempre e eu não devo ser o único, fui logo tratando de achar meu celular em algum canto da cama. Chequei as mensagens e a mais recente me havia sido enviada na noite passada, por volta das 23 horas. A mensagem dizia: “Vc é meu melhor amigo. Eu te amo.” Adivinhem de quem era a mensagem... Isso mesmo, da minha irmã.

A pergunta é: por que me escrever uma mensagem dizendo isso se estávamos, na hora em que ela foi enviada, conversando cara a cara? É tão difícil assim demonstrar afeto e verter seus sentimentos a alguém? Pode parecer bobagem para alguns, mas isso é mais comum do que parece. Eu compreendo a dificuldade e sou fiel possuidor dela.

A verdade é que não importa a intensidade do amor ou de algum outro sentimento que temos por alguém, às vezes as circunstâncias e o medo da reação e de um ligeiro constrangimento não nos permitem abrir a boca e pôr em palavras o que sentimos. Vamos guardando tudo dentro de nós, deixando transparecer esses sentimentos afogados em ações espontâneas. Quantos “Eu te amo” não proclamados por aí, não é mesmo?!

Pra concluir: isso não significa de forma alguma que amamos menos do que os corajosos que rompem essa barreira com facilidade. Pelo contrário, vindo da minha irmã, com quem não troco palavras afetuosas quase nunca e quando o faço a estranheza é inevitável, ainda que um tanto acanhado, um Eu te amo nunca me soou tão verdadeiro.  

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Besteiras que circundam a homossexualidade feminina

A homossexualidade hoje em dia é vista por muitos como algo que não deveria existir, algo repulsivo, que só existe porque aconteceram descuidos, desvios imperdoáveis de uma moral. Não cogitam a possibilidade de pessoas sentirem, de fato e inevitavelmente, atração por pessoas do mesmo sexo, e consideram a homossexualidade e sua prática apenas uma maneira irreverente de desrespeito a coisas que consideram sagradas e fundamentais. Os que compreendem a inevitabilidade desse desejo sexual, apelam absurdamente para argumentos que reivindicam a reclusão dele. Reivindicam que homossexuais não exerçam suas vontades e se escondam em si mesmos para o agrado do todo.

Há também aqueles que passam a aceitar a homossexualidade alheia, à medida em que estabelecem com esta alguma relação que os favoreça de alguma forma. É o caso da fetichização da homossexualidade feminina por parte de homens heterossexuais. Estes veem nesta prática uma única utilidade: obter prazer de alguma forma.

É inegável que muitos homens possuem fantasias sexuais envolvendo duas mulheres, estejam elas se relacionando com ele simultaneamente, estejam elas se relacionando entre si. A existência dessas fantasias é algo saudável e completamente natural. Entretanto, é a partir delas que seus idealizadores passam a internalizar a falsa ideia de que a prática da homossexualidade feminina é útil apenas para servi-lo. O que reforça as ideias de que o correto mesmo é "mulher com homem", que isso é apenas mais um artifício para o alcance de sua satisfação, assim como é uma revista erótica e um filme pornô, e que os desejos sexuais das mulheres não importam tanto assim, devem estar sempre girando em torno dos desejos de um homem.

À medida em que a relação entre duas mulheres não obedece aos desejos desse homem, ela deixa de ser admirável e aceitável. Enquanto sua libido, sexualidade, seu imaginário estão sendo estimulados por tal prática, o fato de ser duas mulheres, duas pessoas do mesmo sexo, pouco importa. E isso se dá quando estão nuas, exibindo seus corpos, se relacionando fisicamente, ou seja, satisfazendo-o. Por outro lado, quando essa prática parte para o lado não físico, para o lado emocional, o lado que culturalmente representa que duas pessoas se gostam e mantém uma relação amorosa, a prática passa a ser incompreendida e hostilizada. 

Dito isto, fica claro como egocentrismo e machismo estão impregnados na sociedade e como isso sustenta crenças e comportamentos. O que falta em muitos homens é a capacidade de aceitar que a mulher possui desejos sexuais particulares e próprios e que sua sexualidade não gira em torno da deles. Portanto, o fato de uma mulher se interessar por outra, significa nada mais, nada menos que ela é um ser livre e com desejos. E esses desejos e a vontade legítima de saciá-los, nenhuma força externa baseada em diretrizes toscas é capaz de destruir. 

domingo, 22 de junho de 2014

Sexo casual

Entenda que você irá ao local com um propósito e que esse propósito será destruído pelo fogo. O fogo que incendiará a cama, o sofá, o banheiro, o chão. Quando teus músculos não mais estiverem enrijecidos, a camisinha estiver no lixo e o fogo apagado, é hora de ir. E o que foi dito em meio às chamas vira cinzas. Cinzas que você não tem direito de guardar num pote.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Proibido amar



Nunca me apaixonei por ninguém. Tampouco amei. Talvez eu tenha desenvolvido um sistema de segurança inconsciente, que me faz correr desesperadamente quando alguém invade um território indesejado e ativa sutilmente minha ternura. E eu devo correr rápido, me fechar rápido, me virar, cerrar os olhos e cessar as palavras. Eu não sei, não percebo. A sensação é de que nunca nem cheguei perto, nunca tive sequer um nó dessa coisa que pulsa em meu peito desatado pelo que eles chamam de amante.

Esses romances que leio não me lembram ninguém. As músicas de amor que canto não falam por mim. Os filmes de amor que assisto jamais imitam o que minhas retinas já reproduziram um dia. Nada disso me serve. Nada disso provei. É como adorar laranjas sem nunca ter experimentado de seu doce e de sua azedura.

Mas vou continuar comprando as laranjas ou o que quer que caiba nessa metáfora barata. E elas estarão lá, prontas para serem completamente compreendidas quando meu coração resolver se rebelar. 

sábado, 31 de maio de 2014

A droga do pertencimento

Quem te pertence, não pertence a ninguém
Nem a ti, nem a ninguém
O amante, o caso da noite passada ou o grande amor de tua vida
Nenhum deles teu, nenhum deles meu, todos eles de ninguém 
E você, que também é amante, que de alguém é o caso, que por alguém é amado
A ninguém pertence
Por ninguém é herdado

Se te dizem que são teus, convenção ou tesão
Se te dizem "é meu", mesmos motivos em ação
Ama e transa, faz sorrir tua vontade
Não joga, porém, o jogo da propriedade

Porque nem uma canção de amor
Nem a declaração mais bela
Nem um milhão de rosas te farão dela

Nem as mais sinceras lágrimas
Nem a gigantesca vontade
Nem que tu queiras será dele propriedade

É certo que os ciúmes vem
É certo que eles vão
Assim como as paixões, sem perdão
Poupa teu tempo então
Cultiva a parte clara
Evita a desavença
Jamais possua
Jamais pertença












sábado, 10 de maio de 2014

Destinatário Mundo

Ei, mundo
Você podia me esquecer só um pouquinho
Me abandonar numa dessas tardes cheias de nada
Me virar as costas com desprezo
Me doar, me leiloar, me vender
Sumir de mim
Não é pedir muito
Me esquece atrás de uma estante qualquer
Me envia para o fundo do mar
Me deixa cair numa fenda
Me implode
Me chuta pra longe
E então continua teu ridículo espetáculo
Amadurece tua rudez e crueldade
Incentiva o ódio e aniquila teus inquilinos
Agita teus oceanos
Gira com aspereza
Mas não demora muito, não
Eu vou te observar de longe
Só volto quando teus céus não mais estiverem espessos
Quando teus leitos estiverem tranquilos
Quando me acordares sorrindo


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Montanha-russa

Vai, levanta. Levanta logo.
Essa escuridão que te cerca é de papel.
Rasga. Respira. Se vira.
Não rola nessa lama que te abriga.
Não insiste no vazio do perdido.
Não nada em areia movediça.
Enfeita a casa, balança o corpo.
Come um pedaço daquele bolo.
Vem aqui fora, encanta umas coisas.
Sobe no telhado.
Olha a vida de cima.
E então cai de novo.





domingo, 20 de abril de 2014

Estranho

Cheguei de cara fechada, num transe lindo. Entrei no banheiro e gargalhei em frente ao espelho. No banho, olhos fechados. Me olharam. Permaneci calado. Cheguei estranho e meu corpo não conta a ninguém o porquê. Não diz onde. Não diz o quê.

domingo, 6 de abril de 2014

Robots















This morning I've got a hangover
And I've discovered my money's over
That's ok cause there's little favors and credit card
And I'm getting naked on my yard

I hope salad for lunch cause I don't want extra-weight
I want a plastic surgery and never look like sixty-eight
I wanna be thin and blond like you
Someone told me I should get out of blue

Let me get into your ferrari
Take me out for an yacht ride
I'll let you touch my body
I assure I'll reduce my pride

You've never seen me on stages
You've never seen me on the magazine
I'm always on last pages
And I don't have a "fan machine"

I feel so sad and that's all
But it will pass
Oh, it will pass
Tonight I'm going to the mall







sábado, 29 de março de 2014

Como viver no meio de Lobos?

Como acreditar na inocência alheia quando tudo parece tão perdido e errado? Como saber se o sorriso não é dissimulado, o discurso é blefe e a boa intenção, volúvel? A gente vive numa imensa alcateia. De lobos mascarados que se penduram na evolução do todo em virtude de suas particularidades. Lobos que nem ao menos esperam o anoitecer para permitir que o instinto animalesco aflore. Eles não se controlam. Mastigam o novo, estraçalham o incomum. Te matam.

sábado, 15 de março de 2014

Escrever

Inquietação. Grito silencioso. Exorcismo dos demônios. Masturbação da alma. Uma pausa de dois minutos. Três. Quatro. Intensidade oscilando. Lágrimas caligrafadas. A veia aberta sangrando.



sexta-feira, 7 de março de 2014

Vazio




A noite de Quinta-feira foi tão vazia quanto ele se sentira naquele dia. E no dia anterior. E no anterior ao anterior. As frases do livro que lia já não lhe causavam a excitação de costume, as atividades que costumava fazer para preencher o tempo pareciam fracas e inúteis, os sentimentos ficavam cada vez mais frágeis, superficiais e opacos. Era como se as coisas houvessem passado para o estado gasoso e ele fosse a bexiga sem nó na qual elas deveriam permanecer. Ou pelo menos entrar pra fazer uma festa, tocar uma música, plugá-lo numa tomada sensações. Espetá-lo com uma agulha!

Sentir. Essa era a palavra que melhor soava aos seus ouvidos naqueles dias. Não desejava amar com extrema ternura, apaixonar-se cegamente, ou chafurdar em felicidade. Desejava se livrar daquela inércia interior que o consumia e transformá-la num evento incomum em seus dias.

Ele pensou demais essa semana. Foi ao banheiro e chorou em frente ao espelho. Aquelas lágrimas feitas de nada o disseram pra continuar tentando: troque o livro, ouça outro estilo musical, fale com desconhecidos, pule de um penhasco. Foda. Beba. Suma. Sai daí!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Storm

Tente sempre evitar problemas. Mas se necessário for, encare-os. E não diga que vai ficar tudo bem o tempo todo. Porque a tempestade sempre vai embora. Mas tuas ruas podem permanecer alagadas.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Tempo

Tempo. Tu escorregando pelas entranhas de tua mãe e teus primeiros ruídos. Tempo. Tempo. O contorno de tua personalidade, tua pequena figura, questionamentos constrangedores, tua inocência cruel. Tempo. Tuas descobertas, palavrões, paixões, a primeira masturbação e teus pelos pubianos. Tempo. Sexo. Tempo. Amor, talvez. Tempo. Tempo. O mundo te engolindo e tu sorrindo, embriagando-se, caindo. Tuas obrigações, aquela reunião, um outro corpo em tua cama. Tempo. Teu sexo fraco, tuas dores, tuas varizes e exames. Tempo. Tempo. Tua pele sem visco, as unhas quebradiças, o cabelo opaco. Tempo. Teu andar arrastado, tua boca flácida, teus comprimidos acabando. Tempo. Tempo. Tua tristeza e sabedoria. A brancura de teus dias. E teus olhos se fechando.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

18

Ele não queria paz, nem silêncio. Ele não queria mais aquele contato constante com a tinta branca das paredes, com aquela cama bagunçada e com seu reflexo no espelho do banheiro. Queria transgressões libertadoras, horários confusos, dias de quarenta horas.

Mas ele tem tanto medo! E agora já tem 18. Saiu sem dizer pra onde ia, desligou o celular, falou com estranhos e falou sozinho. Falou consigo. De volta a sua casa, entrou no quarto e revirou algumas caixas, sentou-se no chão da cozinha e esvaiu-se em lágrimas. Queria mesmo era se jogar num mar de corpos vivos, permanecer exausto. Rir. Rir. Rir. E dançar com o diabo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Alguns desejos


Que as coisas mudem para todos. Para melhor, se possível. Apesar de achar ligeiramente ingênuo e um tanto quanto inútil desejar melhoras maravilhosas, eu sei que isso todo mundo quer. E eu quase nunca acho que mudanças são ruins. E também não acho que devem sempre ser espetaculares. Espero que conheçamos gente legal, façamos novos amigos, conheçamos um novo restaurante, frequentemos lugares novos, passemos por ruas desconhecidas. Desejo mudanças.

Desejo que as pessoas estejam ao menos dispostas a ouvir as outras, mesmo sem concordar com o que está sendo dito. Que deixem suas ideias de mármore um pouco de lado, se abram para novas visões e reflitam sobre elas. Quero que entendam que discordâncias ideológicas e divergência de opiniões não são o fim do mundo. Que ninguém deve ofender ninguém porque um ou outro não concordou que se diz laranja e não cor de abóbora.

Que as pessoas interajam mais, falem mais, chorem no ombro de colegas, caso necessário. Na maioria dos casos, a introspecção não é uma coisa boa.

Quero que nos preocupemos cada vez menos com o alheio, no que diz respeito a frivolidades. O corpo, a roupa, o sexo, a cor, o corte de cabelo, o tamanho dos lábios.

Desejo também que nossos medos se tornem fracos e quebráveis, porque só assim conseguiremos lutar pelo que acreditamos e pelo que desejamos.

Desejo mais sexo a todos,

Desejo menos medos

E mais desejos.