domingo, 19 de novembro de 2023

Boas festas

Vim repetir palavras sobre a repetição de tudo. O compasso do coração que reclama dos mesmos erros e das mesmas questões. A cabeça que encontra o travesseiro e rola de um lado para o outro rebobinando e reassistindo filmes - dizem que nunca é a mesma experiência, então espero que a reelaboração esteja de fato acontecendo. O verão atropelou a primavera e voltou junto às reclamações. Junto às baratas, aos mosquitos e às mortes por negligência. Águas batendo nas canelas dos desesperados, fornalhas açoitando os sem energia elétrica. O papai noel de cada loja deu as caras de novo, a árvore de natal colocou uma roupa nova e a Black Friday tá mais atrativa do que nunca mais uma vez, tá imperdível novamente, tá de graça, tá pela hora da vida.

E se as comidas do vinte e cinco fossem diferentes esse ano? E se as praias permanecessem limpas no trinta e um? A cor será branca invariavelmente, tal qual não varia o perrengue de quem toma o metrô e peita a odisseia de iniciar o ano na orla mais famosa do mundo. Que glamour. Minha hipocrisia de pensar o diferente e fazer o mesmo segue sendo a mesma também. Vou seguir me entupindo de rabanada e salpicão. Vou beber vinho mesmo sentindo calor. Vou acompanhar certa melancolia que certas datas trazem em algum momento e beber mais do que deveria. Olha o panetone, a polêmica da uva-passa, o parente desagradável, o décimo terceiro, o shopping lotado, a casa acessa, a rua quente, as roupas recém compradas. Olha a desgraça. Olha a esperança. Olha a gente se abraçando de novo. Feliz Natal. Feliz Ano Novo.

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