Quando digo que sofro de ansiedade, não quero dizer que um nervosismo súbito faz companhia ao meu corpo vez ou outra. Quando digo que sofro de ansiedade, quero dizer que sofro de ansiedade. Sem o perdão da palavra; sofro. Sinto uma ardência congelante de dentro pra fora que parece corroer a camada mais profunda da pele, parece ser um frio que emana do coração e do estômago ao mesmo tempo. Dois icebergs pulsando a todo vapor e disparando lanças pontiagudas através de artérias exaustas, neurônios workaholic.
Respiração diafragmática então. Inspiro e expiro dez vezes, vinte, cinquenta. Me jogo sob a água quente do chuveiro e cerro os olhos no escuro, na tentativa de proteger o corpo do mais ínfimo estímulo externo. Deito e tento ouvir o coração, mudo de posição, entrego o corpo voluntariamente, e cada vez mais, ao colchão e, no entanto, coço a perna, mudo o travesseiro, penso naquilo, naquele, nele, nele, na fala, na intenção, em mim, no amanhã, no aniversário, na agenda, em 2026. Lanças e mais lanças impiedosamente ligeiras me atingem em cheio e, em vez de derrubar, me levantam, ando ardente pela casa, vou olhar o céu pela janela da sala, me sento a escrever, destroço a geladeira. Respiro fundo como se tivesse gosto o ar, como se fosse remédio, como se fosse acabar.
Uma ou três horas depois, cabeça na fronha novamente. O pensamento é o tolo de sempre: sou eu que mando no meu corpo, na minha mente. E repito o esforço ao não esforço mental eloquente. Nesses dias, geralmente, é o cérebro que vence - exaurido pela espera de um dono incapaz de colocá-lo pra dormir, sai por onde não vejo, sorrateiramente, e pressiona o Desligar. Saldo primeiro do dia: seu computador não foi encerrado corretamente.
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