sábado, 25 de março de 2023

Moeda

 O que assisto daqui, de meu claustro um tanto quanto abafado e de paredes cruas, é o que a mente me conta. E que por vezes sussurra ou berra; não há horário apropriado para uma coisa ou outra. Sussurros ao escrever um texto ou me concentrar numa leitura. Berros ao tentar pegar no sono ou ouvir música alta. Meus ecos me fazem companhia e me levam a revisitar festas, trilhas, risadas e cachoeiras; casas de amigos, ruas cheias, sol na pele e vento na cara. E mesmo estes, ecos vibrantes e outrora clementes, me empurram aos possíveis obscurantismos de um devir latente. Me enfiam dúvidas e medos goela a baixo e me mostram o outro lado da moeda da vida. As contas e o supermercado, a louça que se retroalimenta na pia, meu pai doente, a tomografia. Pessoas passando fome na porta da padaria. E seguimos tentando... Assim: no cara-coroa de todo dia.


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