Às vezes o
que queremos é entrar no clima de falar o que nunca falamos e agir muito mais
fielmente com o que está em nosso interior. A intenção é sempre descontrair,
claro, mas inevitável é que os pecados e os maus presságios se afogam em todo
esse relaxamento. Se afogam em desespero dentro de um corpo que se debate em
gargalhadas, expele palavras chulas e faz da sexualidade uma entidade divina.
Vamos permanecer
ali sentados até que por nossos lábios passem novidades em direção a ouvidos já
conhecidos e que nossas bochechas adormeçam, juntas com todos os moldes morais
que nos causam desconforto, e uma doença chamada compostura. Essa anestesia se
abrange ainda mais e atinge nosso constrangimento, nosso pudor, que passam a
ser sentimentos mortos dentro de uma infinidade de coisas boas ou, no mínimo,
prazerosas.
Arrancamos a
compostura das vísceras, do estômago, do fígado, e a penduramos num varal, só
pra não perdê-la de vista. E surgem então as risadas sem explicação, aquelas
que são as mais gostosas. Surgem choros de lágrimas que foram bebidas
previamente e alegrias que logo mais irão embora. E, claro, possibilidades
perigosas que podem ou não nos pegar pela nuca e soprar a compostura pra longe.
No final de
tudo a gente talvez não se lembre dos grandes fatos embebidos em petulância e
despudor. Talvez aleguemos que jamais repetiremos a dose (ou as doses), mas
assim como a tal da compostura, os sentimentos precursores de toda essa
admirável bagunça são recidivos. E daqui a alguns dias ou semanas estaremos
ali de novo. Porque temos toda a legitimidade do mundo ao querermos escapar um
pouquinho de nós mesmos.
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