segunda-feira, 7 de março de 2016

Ode ao álcool

Às vezes o que queremos é entrar no clima de falar o que nunca falamos e agir muito mais fielmente com o que está em nosso interior. A intenção é sempre descontrair, claro, mas inevitável é que os pecados e os maus presságios se afogam em todo esse relaxamento. Se afogam em desespero dentro de um corpo que se debate em gargalhadas, expele palavras chulas e faz da sexualidade uma entidade divina.

Vamos permanecer ali sentados até que por nossos lábios passem novidades em direção a ouvidos já conhecidos e que nossas bochechas adormeçam, juntas com todos os moldes morais que nos causam desconforto, e uma doença chamada compostura. Essa anestesia se abrange ainda mais e atinge nosso constrangimento, nosso pudor, que passam a ser sentimentos mortos dentro de uma infinidade de coisas boas ou, no mínimo, prazerosas.

Arrancamos a compostura das vísceras, do estômago, do fígado, e a penduramos num varal, só pra não perdê-la de vista. E surgem então as risadas sem explicação, aquelas que são as mais gostosas. Surgem choros de lágrimas que foram bebidas previamente e alegrias que logo mais irão embora. E, claro, possibilidades perigosas que podem ou não nos pegar pela nuca e soprar a compostura pra longe.


No final de tudo a gente talvez não se lembre dos grandes fatos embebidos em petulância e despudor. Talvez aleguemos que jamais repetiremos a dose (ou as doses), mas assim como a tal da compostura, os sentimentos precursores de toda essa admirável bagunça são recidivos. E daqui a alguns dias ou semanas estaremos ali de novo. Porque temos toda a legitimidade do mundo ao querermos escapar um pouquinho de nós mesmos.

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