Eu vivo na calma das horas, nas brechas dos dias, nas sombras lá fora. Meus fantasmas são esculpidos com exímio talento e guardados detrás da estante, embaixo da cama, dentro do sótão da consciência.
E apesar do meu olhar caído em manhãs indigestas, apesar dos gritos internos de horror em noites claras, o que os ofereço é apenas um pouco mais do que surdez e cegueira cínicas. Se debatem em intenso desespero enquanto os cubro com lençóis vagabundos e mal confeccionados, que comprei num mercado de ilusões baratas.
Os buracos se abrem no tecido fino e passo a costurar retalhos de pensamentos aleatórios num espectro cinza embaçado. Remendando remendos, enganando a qualquer um exceto a mim.
Espero algumas respostas me pegarem no colo e a elas me ato. Num nó cego, num nó farto. Mas a linha logo arrebenta, ela sempre arrebenta. O submundo Consciência deixa o preto e branco pra trás e passa a ser vivo. Vermelho sangue, amarelo sol. E eu vou a baixo, numa queda fragmentada, numa queda justa, pelo precipício que ajudei a construir.
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