A quem chega teus pensamentos frívolos de manhã qualquer? O primeiro olhar que lança ao espelho de um dia gordo é só teu. O último também. A picada ardente de mosquito no mindinho da mão esquerda e a boca do moço que achou atraente no ponto de ônibus. O percurso da tua viagem ao trabalho e o que reparou ao longo das avenidas. O calor e o cansaço. A parte do teu corpo por onde o suor mais escorre e aquela lembrança de outro dia - que da forma como vem a ti, só existe assim: em ti. Aquela mania, umas duas fobias, o chão sujo do teu quarto, e a real sensação daquela alegria. O incômodo com tua barriga, o teu perfume de sempre, teu pesar não dito e a autoestima anunciada em teu sorriso imperfeito. Teu desenho mal feito. Tua voz embargada. O mais obscuro pensamento e ambição incubada. Quem saberás dizer de ti melhor que teu peito? Nem o tempo de uma vida inteira, nem amor ou amizade perene. Antes de se estender e desabrochar em braços de outras relações, é contigo mesmo que o mundo conversa. É na solidão do teu cerne que ele nasce e desperta.
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