Mergulho no desejo com o primor que um nadador profissional perfura a água estática da piscina. Nas águas quentes me banho afoito, porém sem pressa de chegar a lugar algum. De gole em gole me percebo vivo ou morto, bem ou mal, cantando ou chorando. Chego no fundo, me debato, tomo prazeres como meta do campeonato, mas sufoco nos exageros de mim mesmo. Então pego impulso, me lanço nuns ares menos densos como peixe que brinca de viver bem - entendo a necessidade de um oxigênio sem gozo, sem lascívia, sem luxúria, sem ebriedade. Mas logo decaio à frieza das águas que outrora foram abrasantes. Petrifico. Congelo. Procuro as bordas com pressa de banho frio de inverno; minha cabeça emerge da piscina e a boca se abre gorda a sugar os ares límpidos de uma boa noite de sono, de uma alimentação balanceada e de uma rotina que me dá orgulho. Dias depois, no entanto, sinto a mornidão do vapor das águas me beijar a pele suavemente e não me demoro a, dessa vez, utilizar as escadas pra ir em direção ao meu submundo favorito. Com o gelo quebrado e brasas fora de vista, me banho confortavelmente em temperatura ambiente, sem queimar ou ranger os dentes, e me ponho a boiar sobre a insinuação da superfície.
Bebo da água quando quero,
mergulho e retorno vez ou outra.
Tem dias que desespero;
noutros não tomo uma gota.
Não me furto a dizer que há noites que piro
E ainda que por demais encharcado,
respiro.