Dia desses, vi andando por aqui um gato de olhar confuso e nada efusivo. Um gato que se
ajeita numas sombras diurnas e se esparrama na imensidão dessas noites
pequenas. Que parece saber que a serenidade das tardes merece todo nosso apreço
e que as manhãs também precisam ser vividas.
E tá por
aqui ainda, o gato, aqui por dentro... Numa luta contra o tempo, o tempo dele,
o tempo do qual ele acha que tem o mínimo de controle e entendimento. O tempo
que às vezes o sufoca, e que às vezes o faz querer caminhar. Constante, claro,
alguns arrastar de horas pelo dia, rolando sobre algumas coisas, dormindo em
cima de outras muitas, tendo umas ideias frescas e outras vagabundas.
Em noites
lindas e atípicas, por algum motivo, sob céu limpo ele se senta a conversar
comigo e me sussurra as profundezas do peito. Diz já não querer se perder no
tempo, que quer buscar equilíbrio entre instinto e racionalidade. Quer o
intermédio entre ar e vento. Quer se encontrar de verdade. E também viver de
luz e de caminhadas acesas pela manhã, farejar muitos ares, pra só então
decidir qual deles vai ser seu combustível fiel até a morte.
E até
algumas decisões sangrentas serem tomadas, até esses nós sem olhos serem
desatados e umas promessas cumpridas, o lado incansavelmente recluso de seu ser
se fará assiduamente presente. Calado. Afastado. Bate o rabo. Se vira.
E tá por aqui ainda, o gato. Aqui por
dentro...