quarta-feira, 10 de maio de 2017

Didática


Eu poderia fazer uma pesquisa, reunir recortes de artigos, te indicar uns livros ou te escrever um email tentando te explicar o que é, como é, quais as causas e efeitos. E te falar das sensações, das alegrias e das angústias. Entenderias? Eu sei que teria feito muito menos do que o suficiente. Teria feito quase nada, tendo o tal do amor como referencial.

Eu poderia te mostrar umas músicas então, e gritar com força cada verso. Poderia guiar tua mão até meu peito acelerado, te convidar pra um passeio a três e te contar a sensação de acordar a dois. Te falaria sobre a vida de antes e sobre a de depois. Caminharíamos por uns lugares eternizados em mim, e eu discursaria assiduamente sobre o que sentira ao estar ali. Tu saberias dos beijos, dos risos, das mãos dadas e da força que elas carregam. Suficiente? Nem perto.

Eu vou sair berrando pelas ruas, vou tatuar minha testa, dar uma baita festa e discursar no microfone. Vou me drogar e, em estado alterado, tentar tudo de novo. Vou te escrever cinquenta textos, te ler outros vinte, e te cantar tudo aquilo que toca aqui dentro. Vou invadir tua casa, derrubar as paredes e deixar umas notas na geladeira. E agora, sim? Não. Ainda não.

Eu danço, eu faço mimica, eu convulsiono na tua frente. Eu fico nu, eu mostro os dentes. Encho um copo com minhas lágrimas e te empurro goela a baixo, te dou um banho de sangue quente, te envio meu cérebro pelo correio. Arranco meu coração com uma das mãos e esfrego na tua cara.

Vê? Não vê.

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