sábado, 28 de fevereiro de 2015

Afoito amargor

Me ausento dos meios e dos bons sentimentos. Me encosto nos cantos, disseco paredes. Os combustíveis dessa vivacidade fugaz se esvaem pelo passar das horas, pelo ar, pelo prognóstico da semana seguinte.

Me escuto no silêncio da madrugada, no barulho da geladeira, no ronronar do gato. Tomo uma noite com sabor de amanhã e me retraio, murcho, caio. Durmo, e tento tirar o amargo da boca.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Remissões

Desculpa pelo atraso e pela pisada no pé.
Pelo sofrimento inevitável causado num por outro, perdão.
Pelos esbarrões atrapalhados, desculpa.
Pelas mentiras bem contadas, perdão.

Por não comprar o presente, desculpa. Por esquecer o aniversário, perdão.
Desculpa por entrar sem bater e perdão por jamais querer entrar.
Desculpa pela demora da resposta. Perdão por não querer falar.

Desculpa por muita, muita coisa. Perdão apenas pelo que importa.
Desculpa o pequeno desencontro, a casa bagunçada, o riso inconveniente. Perdoa a humilhação, as verdades falsas, quem de ódio tá doente.

Desculpa, enfim, tudo o que passa. Perdoa, então, o que perdura.