Sábado de manhã, em minha cama, lendo um livro, entra minha irmã em meu quarto e me sai com essa: "Igor, você é tão só!". Pegou alguma coisa e saiu, enquanto eu fechava o livro e franzia a testa. Eu? Sou só? Nunca havia parado para pensar sobre, mas já que a oportunidade bateu na porta, eu abri.
Bom, há uma diferença bastante significativa entre ser só e estar só, apesar, claro, da sutileza com que isso nos é apresentado no dia a dia.
Há, infelizmente, em grande parte dos lugares que frequentamos, pessoas que são sozinhas. Aquele garoto da festa que tenta sorrir e fazer o que os amigos estão fazendo, mas que, por alguma razão mais profunda do que um mal estar, não consegue interagir da mesma forma que o resto do grupo ou compartilhar das mesmas sensações. A moça que, na rua, anda correndo e olhando para baixo, rígida, assustada. Pessoas que se fecham pra tudo isso que tá aí, que tremem ao serem abordadas por um desconhecido simpático. Essas pessoas que podem estar no meio de uma multidão mas estarão sós, são sós.
Portanto, por serem assim, não é de se surpreender que prefiram estar sozinhas, livres desse medo de viver e abraçar o mundo. E é aí que se dá a confusão entre esses rótulos. Todos trancafiados em seus quartos, como saber quem está e quem é?
Estar só é simplesmente querer ficar consigo, ouvindo os próprios gritos, dialogando com os próprios medos. É se limpar de toda concessão que fazemos pra conseguir viver bem com os outros e passar a viver melhor com nós mesmos. Estar só é, antes de qualquer coisa, um convite à sinceridade.
Não que os solitários de espírito não o sejam ou não o façam, porém a distinção se apresenta quando estamos todos fora de nossos claustros, lidando com o mundo, com o outro. Ser só é triste e requer análise e atenção. Estar só, e bem, é apenas paz de espírito. É auto-acolhimento. É amor com as horas vagas.