sábado, 31 de maio de 2014

A droga do pertencimento

Quem te pertence, não pertence a ninguém
Nem a ti, nem a ninguém
O amante, o caso da noite passada ou o grande amor de tua vida
Nenhum deles teu, nenhum deles meu, todos eles de ninguém 
E você, que também é amante, que de alguém é o caso, que por alguém é amado
A ninguém pertence
Por ninguém é herdado

Se te dizem que são teus, convenção ou tesão
Se te dizem "é meu", mesmos motivos em ação
Ama e transa, faz sorrir tua vontade
Não joga, porém, o jogo da propriedade

Porque nem uma canção de amor
Nem a declaração mais bela
Nem um milhão de rosas te farão dela

Nem as mais sinceras lágrimas
Nem a gigantesca vontade
Nem que tu queiras será dele propriedade

É certo que os ciúmes vem
É certo que eles vão
Assim como as paixões, sem perdão
Poupa teu tempo então
Cultiva a parte clara
Evita a desavença
Jamais possua
Jamais pertença












sábado, 10 de maio de 2014

Destinatário Mundo

Ei, mundo
Você podia me esquecer só um pouquinho
Me abandonar numa dessas tardes cheias de nada
Me virar as costas com desprezo
Me doar, me leiloar, me vender
Sumir de mim
Não é pedir muito
Me esquece atrás de uma estante qualquer
Me envia para o fundo do mar
Me deixa cair numa fenda
Me implode
Me chuta pra longe
E então continua teu ridículo espetáculo
Amadurece tua rudez e crueldade
Incentiva o ódio e aniquila teus inquilinos
Agita teus oceanos
Gira com aspereza
Mas não demora muito, não
Eu vou te observar de longe
Só volto quando teus céus não mais estiverem espessos
Quando teus leitos estiverem tranquilos
Quando me acordares sorrindo